ALDA LARA
À prostituta mais nova
do bairro mais velho e escuro,
deixo os meus brincos, lavrados
em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
rapariga sem ternura,
sonhando algures uma lenda,
deixo o meu vestido de noiva,
todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
ofereço-o àquele amigo
que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
das contas de outro sofrer,
são para os humildes
que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
esses, que são de dor
sincera e desordenada...
esses, que são de esperança,
desesperada mas firme,
deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
em que a minha alma venha
beijar de longe os teus olhos,
vás por essa noite fora...
com passos feitos de lua,
oferecê-los às crianças
que encontreres em cada rua...
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NA FONTE DA VIDA ETERNA
RODRIGO GONÇALVES DE SOUZA
Novamente me imaginei sozinho
no escuro úmido, os alicerces ruindo
A aurora atingindo a singularidade nua
A neblina me sussurrando que as picadas na mata
eram um jogo de dados viciados, um raminho
perdido na trilha pisei distraindo
mim (onde estava o eu?) era um acrobata,
um náufrago em um bote a alto-mar sem lua
Estava(-mos) como um feto no útero, sem cordão umbilical
Quando no desespero, em meio aos sentimentos havia uma melodia
No olho do furacão agonia, o ardor de vergonha dizia
que a mais um passo estava o ponto de apoio existencial
Não há como já atracar o porto final, mas a resposta parcial
está no caminho-indo
Num rapel, enxergando um pouco do Céu, mas ou cairia
Ou iria prosseguindo
Trecho de “THE HOUND OF HEAVEN” ( O PERDIGUEIRO DO PARAISO)
FRANCIS THOMPSON
Oh mundo invisível, nós te enxergamos,
Oh mundo inatingível, tocamos em ti,
Oh mundo intangível, nós te conhecemos,
Inapreensível, nós te agarramos
Sai voando o peixe para achar o oceano,
e mergulha a águia para obter o ar?
Perguntamos nós aos astros a mover-se
Se lá eles ouvem falar de ti?
Não onde os sistemas em rotação se toldam,
E o nosso pensar entorpecido adeja! -
O rufar de asas é o que ouviríamos,
E batidas em nossas portas de barro.
Os anjos mantém seus antigos lugares;-
Vire-se uma pedra, e aparece uma asa!
Vós mesmos, sim, vossos alienados rostos
É que a multiesplêndida grandeza perdem.
Mas quando estiveres triste a não mais poder,
Clama – e sobre eles a lamentável perda
Fará brilhar a circulação pela escada de Jacó,
Erguida e inclinada entre o Céu e Charing Cross.
Sim, durante a noite, oh minh'ama, minha filha,
Clama – segurando o céu por suas orlas;
E vê Cristo andando sobre as águas
Não de Genesaré, mas dali, do Tâmisa!
CANTIGA DOS PASTORES
ADÉLIA PRADO
À meia noite no pasto,
guardando nossas vaquinhas,
um grande clarão no céu
guiou-nos a esta lapinha.
Achamos este Menino
entre Maria e José,
um menino tão formoso,
precisa dizer quem é?
Seu nome santo é Jesus,
Filho de Deus muito amado,
em sua caminha de cocho
dormia bem sossegado.
Adoramos o Menino
nascido em tanta pobreza
e lhe oferecemos presentes
de nossa pobre riqueza:
a nossa manta de pele,
o nosso gorro de lã,
nossa faquinha amolada,
o nosso chá de hortelã.
Os anjos cantavam hinos
cheios de vivas e améns.
A alegria era tão grande
e nós cantamos também:
Que noite bonita é esta
em que a vida fica mansa,
em que tudo vira festa
e o mundo inteiro descansa?
Esta é uma noite encantada,
nunca assim aconteceu,
os galos todos saudando:
O Menino Jesus nasceu!
de: LAURA PERES DA ROCHA FERNANDES COSTA
[presente na publicação Em Tua Graça — o livro de culto e orações, publicado para a IX Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI)]
Quando o sofrimento for por demais doloroso, que ouçamos Jesus dizendo:
A minha graça te basta!
Quando o desânimo tomar conta de nossos corpos e mentes, que ouçamos Jesus dizendo:
A minha graça te basta!
Quando as injustiças assolarem nossos olhos e nossas vidas, que ouçamos Jesus dizendo:
A minha graça te basta!
Quando o desejo da morte for maior do que a luta pela vida, que ouçamos Jesus dizendo:
A minha graça te basta!
Porque o poder do amor se aperfeiçoa na fraqueza, ouçamos Jesus dizendo:
A minha graça te basta!
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