25 de julho de 2012

Em honra de São Tiago, o Menor, Apóstolo de Jesus Cristo

Naqueles dias, alguns profetas desceram de Jerusalém a Antioquia. Apresentou-se um deles, chamado Ágabo, o qual começou a anunciar, por meio do Espírito, que estava pra vir uma grande fome sobre toda a terra. E ela de fato veio, no reinado de Cláudio. Decidiram então os discípulos, cada um segundo suas posses, enviar contribuições em ajuda aos irmãos que moravam na Judeia. Eles de fato o fizeram, enviando-as aos anciãos por intermédio de Barnabé e de Saulo. Nessa mesma ocasião o rei Herodes começou a tomar medidas visando a maltratar alguns membros da Igreja. Assim, mandou matar a espada Tiago, irmão de João. E, vendo que isto agradava aos judeus, mandou também prender Pedro. Era no dia dos Pães Sem Fermento.
Atos 11,27-12,3.


Vinte e cinco de Julho é no calendário litúrgico da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil data de celebração à honra e memória de São Tiago, o apóstolo. Ele fora um dos Doze dos círculo de discípulos de maior incumbência por parte de Jesus, simbolizando a restauração da nação israelita. Irmão do apóstolo João, filhos de Zebedeu, ganharam de Jesus o apelido de “Boanerges”, “Filhos do Trovão”.

Efetivamente no período relatado no trecho de Atos, houvera uma grande fome; o território da Judeia foi especialmente afetado. Vimos aí uma das primeiras características da continuidade do movimento idealizado por Jesus, quando pessoas de outras nações, povos, países, promovem coletas para ajudar os mais vulneráveis. E os líderes, os Anciãos/Presbíteros, cumprindo a função de servirem na organização dos suprimentos recebidos.

Chegamos à morte de Tiago; o Herodes mencionado ali, Antipas I, era o filho e cunhado de Herodes Magno, meio-irmão do Herodes Antipas, personagem importante nos evangelhos. Ele se unira ao partido do maníaco Gaio Calígula em Roma, se tornando quando da entronização deste como imperador, oficialmente “rei dos judeus” em cerca de 37 d.C. Era uma figura carismática muito influente na população, frequentava o Templo.

Nas mãos deste, o primeiro grande martírio cristão. Vemos aí uma figura recorrente na história e no período contemporâneo: uma liderança despótica com poder de sedução nas massas, que apela para e explora seus símbolos e elementos de aglutinação cultural (frequentemente religioso), e que assim se julga acima do bem e do mal. Insaciável.

Então, aproximou-se de Jesus a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos e, prostrando-se, fez-lhe um pedido.
"O que você quer? ", perguntou ele. Ela respondeu: "Declara que no teu Reino estes meus dois filhos se assentarão um à tua direita e o outro à tua esquerda".
Disse-lhes Jesus: "Vocês não sabem o que estão pedindo. Podem vocês beber o cálice que eu vou beber? " "Podemos", responderam eles.
Jesus lhes disse: "Certamente vocês beberão do meu cálice; mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não cabe a mim conceder. Esses lugares pertencem àqueles para quem foram preparados por meu Pai".
Quando os outros dez ouviram isso, ficaram indignados com os dois irmãos.
Jesus os chamou e disse: "Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas.
Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo;
como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos".
 Mateus 20:20-28


No trecho do Evangelho segundo a tradição de São Mateus, vemos algo nada honroso por parte dos irmãos; na vergonha do que estavam fazendo, tentaram usar sua mãe para “amolecer” Jesus e fazê-lo considerar seus pedidos de lhes conferir o domínio ao seu lado. Possivelmente entenderam o “cálice” a que Jesus se referia como o símbolo de glória dos cálices dos reis; mas Jesus empregava um recurso de linguagem próprio dos profetas, como em Isaiás 51,17, que era cálice de um sofrimento que se recai. E ele antevera que recairia sobre eles também...

Adviera grande celeuma entre os discípulos; com razão, os outros dez se sentiram ultrajados com a atitude de Tiago e João. Jesus então agiu como Mestre, chamando a todos e subvertendo completamente suas noções de poder, o que tornaria a discussão vã. Redefine o poder como capacidade e possibilidade de servir. E a honradez como a disposição e préstimo em servir. Evoca mesmo a figura do Filho do Homem para si, que era uma lenda entre os judeus sobre alguém que viria julgar o mundo, fazer justiça aos fiéis de Deus e restabelecer a nação israelita. Observe sua raiz:

Eu continuava contemplando, em minhas visões noturnas, quando notei, vindo sobre as nuvens do céu, um como Filho do Homem. Ele adiantou-se até ao Ancião de Dias e foi introduzido em sua presença. A ele foi outorgado o poder, a honra e o reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram.
Daniel 7,13-14

Jesus então empregou uma frase de forte altissonância para impactar seus seguidores, evertendo suas compreensões tradicionais. A lição ficara marcada no início de seu movimento, ficara marcada no apóstolo Tiago.


Oração para o dia de São Tiago, o Menor, Apóstolo de Jesus Cristo, no Livro de Oração Comum:
Senhor Deus, o teu apóstolo Tiago consentiu em deixar seu pai e tudo o que possuía e ainda em sofrer pelo nome do teu Filho; ajuda-nos misericordioso para que nenhuns laços terrenos nos afastem do teu serviço. Mediante Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

11 de julho de 2012

Nem alforje, nem dinheiro ao cinto

E ele percorria os povoados circunvizinhos, ensinando. Chamou a si os Doze e começou a enviá-los dois a dois. E deu-lhes autoridade sobre os espíritos impuros. Recomendou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado apenas; nem pão, nem alforje, nem dinheiro ao cinto. Mas que andassem calçados com sandálias e não levassem duas túnicas. E dizia-lhes: “Onde quer que entreis numa casa, nela permanecei até vos retirardes do lugar. E se algum lugar não vos receber nem vos quiser ouvir ao partirdes de lá, sacudi o pó de debaixo dos vossos pés em testemunho contra eles”. Partindo, eles pregavam que todos se arrependessem. E expulsavam muitos demônios, e curavam muitos enfermos, ungindo-os com óleo.


Diferente de muitos líderes carismáticos e formadores de grupos religiosos, Jesus não parecia ter um ministério marcado por um apelo a se apartar da sociedade e da vida do povo; parecia se envolver e adentrar nas comunidades e relacionar sua mensagem com a vida delas.

O cenário retratado pelo evangelista Marcos acentua isto bastante. Ele situa essa passagem logo após narrar a rejeição do Mestre em sua região. Ainda assim, não sucumbe à tendência de dar, a partir disso, um direcionamento à sua proclamação para um sentido de apartamento do mundo social dos aldeões... antes ele permanece percorrendo e ministrando nos povoados, e a atribuição aos seus discípulos para fazer o mesmo, no mesmo caráter.

Os Doze. Jesus não selecionou doze discípulos priores à toa; sem dúvida passava o entendimento de remontar ao povo de Israel unido; ao Israel idealizado; remetiam às doze tribos das origens do povo de seu Deus. Mas a ênfase de Jesus não seria a nostalgia do passado; mas à perspectiva do futuro, à restauração do povo, restauração com a terra, restauração consigo mesmos, restauração com Deus.

E muito importante quando Marcos coloca que a estes Doze ele lhes outorgou poder. A questão passa a ser como ele lhes incumbira de exercer este poder...

Primeiramente, são chamados a associarem sua missão com a vida as comunidades, e não se apartarem num tipo de “esnobismo espiritual” delas. Também, são chamados a se despojarem e dependerem totalmente de Deus.

Não tinham reservas de sustento: não levavam suprimentos, não podiam usa a comum túnica sobre-capa, a qual era cusual como cobertor, colcha de cama, na falta de pousada para a noite. Apenas uma túnca. Tinham que contar que Deus iria providenciar. Não poderiam mendigar, não usando as bolsas que os mendigos usavam. Aceitar o pouso que lhes oferecessem, a comida que lhes dessem, sem ter a opção de migrarem para as casas mais confortáveis nos povoados caso lhes oferecessem no decorrer da estadia. E em caso de rejeição, deixarem a causa por conta de Deus, para ele acertar as contas com as pessoas, não levando consigo a mágoa e rancor...sacudir a poeira e deixar as pessoas com suas responsabilidades.

Marcos, diferente de Mateus 10.9, diz que os discípulos poderiam usar um bordão. Talvez porque a combinação deste com as sandálias remetesse à imagem do êxodo do Egito – Ex. 12.11 – ou porque Mateus os quis diferenciar de outros grupos de pregadores itinerantes.

Marcos chama a nossa atenção para a associação entre a mensagem de arrependimento com a expulsão dos demônios e cura. É como se quisesse mostrar que para o caráter da missão de Jesus, estavam mesmo interligados. O arrependimento, a restauração, a derrota do mal e o sanar. Realmente, causamos muitos males a nós mesmos, de cunho psicológico e físico, com nossas culpas que carregamos; também com as ações más, que reverte-se em nós, ou que deformam nossa imagem e semelhança de Deus. Quebramos nossas resistências e tendemos a entrar numa espiral viciosa de degradação interior ou exterior, que não se retrai; apenas pode ser quebrada; este é o papel da confissão e do arrependimento.

Marcos continua nos conduzindo a esta apresentação do comissionamento de Cristo. Nos transporta a seguir para um cenário contrastante, com o fausto e perversão da corte herodiana, e dela para a morte de João Batista, como que indicar realmente que este discipulado tem um preço, e que não é algo, digamos, “romântico”, mas um embate mortífero com as forças contrárias...