7 de junho de 2009

FESTA DA SANTÍSSIMA TRINDADE - parte I


Porque és um só Deus, Triúno, uma só Substância Divina,
subsistindo eternamente como Pai, Filho e Espírito Santo,
digno de adoração, honra e louvor pelos séculos dos séculos.
Prefácio para a Festa da Trindade, do Livro de Oração Comum da Igreja Anglicana


Hoje a Igreja Cristã comemora a Festa da Trindade.

Realmente, a doutrina trinitária seria um dos princípios teológicos cristãos mais difíceis de serem assimilados, para não-cristãos e muitos cristãos também. Vamos falar a respeito um pouco.

Ao primeiro contato, as pessoas ficam assombradas. O Cristianismo não é essencialmente monoteísta? Não prega que Deus é um, o Eterno, o Absoluto, O Senhor? Então ele fala de três deuses?

A percepção da doutrina da Trindade foi desenvolvida paulatinamente nas comunidades cristãs. Primeiramente, com o reconhecimento de que Jesus Cristo refletia o Pai, estava imbuído da autoridade do Pai, seria o elo entre o ser humano e o Pai, e perfeitamente coadunado com a vontade do Pai. Que sua ressurreição corporal atestava que esteve e está à altura de tal reivindicação. Ele então tinha autoridade para perdoar pecados diretamente, para se dizer assentado à direita do Pai (ou seja, co-regente da Criação ), para dizer que cumprir a Torah não bastava para entrar no Reino de Deus se não houvesse a disposição incondicional de segui-lo (quem a não ser Deus poderia reivindicar tal, de um judeu para os judeus?), que poderia dizer “os antigos [= para os judeus, Moisés, tendo repassado as instruções diretas de Deus]disseram isso...eu porém", e tendo, a partir de sua entrega à crucificação e sua ressurreição, fora vindicado para ser o mediador da Nova Aliança com Deus, ser o próprio Novo Templo de Deus entre os homens, manifestar a Glória [Shekkinah] de Deus e levar a criação e a humanidade à consumação nos propósitos divinos.

Pela reflexão sobre Jesus e o envio do Espírito e o que Cristo referiu como o papel que desempenharia junto ao povo da Nova Aliança, relendo à luz do que as Escrituras Hebraicas mencionam sobre o Espírito, e à luz de suas experiências de culto e adoração, acreditando que o Espírito de Deus os capacitava ao testemunho, impelia-os à comunhão espiritual com Deus e à caminhada rumo à Cristo, se apecerberam que o Espírito Santo era Deus, não “alguma coisa”, provinha de Deus e levava ao alvo: Deus. O apóstolo Paulo profere um preceito cristão vigente em seu período, na Carta aos Romanos, 8.11, de que o Espírito é aquele “que ressuscitou o Filho dentre os mortos”. Em II Coríntios ele despede-se dos cristãos da igreja de Corinto com a saudação “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém [Assim Seja]". São Gregório de Nazianzeno, nos meados do século IV, observara que as Escrituras aplicavam ao Espírito todos os atributos e títulos divinos, salvos “aquele que é eterno, que sempre existiu, que não foi gerado”.

Nos meados do século II, o teólogo Santo Irineu de Lyon, sacerdote e escritor, cujo pensamento era totalmente focado em ser fiel ao ensino e continuidade do ministério dos apóstolos, já expressava, na obra Demonstration of the apostolic preaching [Demonstração da pregação apostólica]:

"Deus Pai, que não foi criado, que é indivisível, o único Deus, criador do universo; esse é o primeiro artigo de nossa fé... E o Verbo de Deus, o Filho de Deus, é Nosso Senhor Jesus Cristo...que, na plenitude do tempo, para reunir todas as coisas em si mesmo, tornou-se um ser humano entre os seres humanos, capaz de ser visto e tocado, de destruir a morte, de trazer vida e de restaurar a comunhão entre Deus e a humanidade. E o Espírito Santo...que na plenitude do tempo, foi derramado de forma inédita sobre a natureza humana para renovar a humanidade, em todo o mundo, aos olhos de Deus."

Os princípios da leitura neotestamentária sobre a Trindade são bem sintetizados por um dos maiores teólogos do século XX e da atualidade, Jurgen Moltmann:

"(...) o Pai ressuscita o Filho, pela força do Espírito; o Pai revela o Filho, pelo Espírito; o Filho é estabelecido como Senhor do poder de Deus, mediante o Espírito”. Desta forma, “o Pai ressuscita o Filho morto, pelo Espírito vivificador; o Pai estabelece o Filho como Senhor do seu reino; o Filho ressuscitado envia o Espírito criador do Pai, que renova céus e terra”. Do livro "Trindade e reino de Deus".

O termo “Trindade”, do latim Trinitas, foi cunhado, juntamente com todo um edifício correspondente de terminologia, por Tertuliano de Cartago no século II., para a sistematização do pensamento, especialmente no escrito "Contra Praxeas", quanto às três pessoas de Deus fundamentadas em uma existência em comum numa substância única.

Mas como pode ser isso? Não seria algo completamente fora de senso? Onde já se viu alegar que Deus é um, mas é três? Seria lógico? Como na música “Índios”, do Renato Russo,
”Quem me dera, ao menos uma vez,
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário