28 de julho de 2009

Deus Crucificado por Nós

Refletimos anteriormente sobre as compreensões de que, para muito além de especulações abstratas, ou reflexões com base em objetos e seres, Deus se revelou de forma mais visceral e expressiva através do sacrifício de Jesus culminando na cruz. Ali Deus manifesta seu caráter abertamente, no mais próximo do que chamamos “pessoal”. E ali vemos que Deus, longe de ser um déspota indiferente ao sofrimento de suas criaturas, filhos e filhas, participa dele, sofre com eles compadecendo-se e tomando esse sofrimento sobre Si, como a semente da
Redenção Plena de toda a criação que Ele consumará.

Ficaram no ar as perguntas:

isso é apenas uma forçação de barra, uma resposta forçada para que a religião cristã abarque algo que nunca pretendeu, porque hoje as pessoas estariam mais sensíveis ao sofrimento? Ou isto realmente, de forma procedente, fazia parte do cristianismo desde seu nascimento?

E como prometido, vou deixar a tradução que fiz da resenha de um livro, por parte um eminente professor de Novo Testamento. Esse livro, de forma concisa e robusta, responde a estas questões.


Richard Bauckham, God Crucified: Monotheism and Christology in the New Testament. Carlisle: Paternoster,1998; Grand Rapids: Eerdmans, 1999. x+79 pp.

Richard Baukham: DEUS CRUCIFICADO: Monoteísmo e Cristologia no Novo Testamento

Este curto livro é muito mais importante do que seu tamanho poderia sugerir. Uma versão publicada das “Palestras Didsbury” de 1996 no British Nazarene College, em Manchester, que antecipa um estudo por Bauckham de todo o período sobre o mesmo tema. Este professor de estudos no Novo Testamento em St. Andrews [recentemente aposentado – nota do tradutor] já se demonstrou um prodigioso e criativo estudioso evangelical, não só no seu campo atual, mas em áreas que abrangem também teologia sistemática e história da igreja.

Aqui Bauckham aborda o top em duas das abordagens prevalecentes para a compreensão da história cristã precoce em seu primeiro meio-século. Por um lado, muitos estudiosos liberais ainda vêem uma lenta evolução da cristologia [ Cristologia = estudo e doutrina sobre a natureza, origem mais profunda, de Jesus Cristo, relacionando-se com sua pessoa e obra - Nota do Tradutor] tal que a equação de Jesus com Deus poderia ter tido lugar apenas em um contexto helenístico tardio. Por outro lado, cada vez mais estudiosos conservadores e centristas têm recorrido a figuras intermediárias do judaísmo, como anjos exaltados, Melquizedeque e mesmo Moisés, como provas de que judaísmo interstamentário veio a confundir a distinção entre Deus e o homem. Estes precedentes, como tem sido argüido, em seguida permitiram aos judeus cristãos iniciais predicarem a divindade de Jesus de uma forma que o monoteísmo implacável de outros períodos da história judaica (incluindo os existentes) não teria permitido.

Contra esses dois tipos de visões Bauckham argumenta que (1) primeiramente o Judaísmo do primeiro século preservava fortes fronteiras entre Deus e a humanidade, de tal modo que figuras intermediárias não fornecem os precedentes adequados para explicar o que judeus cristãos disseram sobre Jesus, ainda (2) desde as primeiras fases do desenvolvimento cristológico em diante, Jesus foi equiparado com as características de Deus - especialmente sua criação e providência - que mais definiam o monoteísmo judaico. Assim, os crentes não chamavam Jesus de um “segundo deus” ou um “semi-deus”, mas atribuiam-lhe a própria identidade de Yawé.

De forma surpreendente, essas equações frequentemente entram em textos que fazem alusão a passagens do Antigo Testamento que estão falando de Deus, o Pai, com estas mesmas características definidoras de sua identidade, tais como 1 Coríntios 8:6 (aludindo ao Shemá de Deut. 6:4 [Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único SENHOR. – Nota do Tradutor]). Em várias ocasiões-chave, os textos aludem a passagens de Isaías 40-55, especialmente Filipenses 2:6-11, as passagens “Alfa e Omega” do Apocalipse, e os textos joaninos relativos à Cristo sendo "levantado" e "exaltado" (cf. , respectivamente, Isa. 45:22-23, 44:6 e 48:12, e os vários ditos "Eu Sou"). Mas esta é também a seção de Isaías que é permeada com os textos do "Servo Sofredor", especialmente Isaías 52:13-53:12, os quais revelam o Único Deus, Yawé, prometendo que o seu Servo iria sofrer e morrer para expiar os pecados do mundo. Ao mesmo tempo, os mesmos textos do Novo Testamento que ligam Jesus com Deus também contêm alusões ao seu papel como Servo. Portanto, os escritores do Novo Testamento não somente atribuem a Jesus identidade divina, eles simultaneamente melhor definem a Deus como Aquele que vai ser crucificado (daí o título de Bauckham).

Assim, não somente deve ser reescrito muito da história do Novo Testamento, mas duas conclusões surpreendentes seguem para o estudo da teologia histórica. Primeiro, o desenvolvimento da cristologia da igreja primitiva e os seus credos não só é um legítimo desenvolvimento do que está implícito no Novo Testamento, como reformula o contexto para aquilo que é, por vezes, bastante explícito nas Escrituras. Em segundo lugar, as tendências da teologia moderna (contra muitos teólogos antigos) para falarem diretamente de Deus sofrer e morrer são vindicadas (cf. especialmente Barth e Moltmann, ambos com base em precedentes importantes estabelecidos por Martinho Lutero).

Eu não posso encontrar falhas nos argumentos de Bauckham até agora. Aguardamos a plena defesa e documentação de suas teses com grande antecipação. Enquanto isso, esse volume merece ampla circulação, de fato. Pode revelar-se revolucionário!

Craig L. Blomberg
Professor of New Testament
Denver Seminary, Denver, CO

a original está aqui: http://www.denverseminary.edu/article/god-crucified-monotheism-and-christology-in-the-new-testament/

24 de julho de 2009

O que Deus está fazendo enquanto há sofrimento?

Um Deus que não pode sofrer é mais pobre do que qualquer ser humano. Pois um Deus que é incapaz de sofrer é um ser que não se envolve de forma relacional. O sofrimento e a injustiça não o afetam. E pelo fato dele ser tão absolutamente insensível, nada pode afeta-lo ou abala-lo. Ele não pode chorar, pois não possui lágrimas. Contudo, quem é incapaz de sofrer também é incapaz de amar. Assim, ele é também um ser destituído de amor.

Jürgem Moltmann, “The Crucified God: The Cross of Christ as the Foundation and Criticism of Christian Theology”.p. 329.


Estas palavras extremamente fortes não são despejadas por um ateu, ou alguém revoltado contra Deus. São palavras bem centradas, de um livro profundo de um dos maiores teólogos do século XX e de todos ainda vivos. Jürgem Moltmann. E não são palavras de um acadêmico frio que produz teologia desvinculada da vida. Ele relatara diversas vezes sua experiência com Cristo na prisão, após a Segunda Guerra Mundial, e sua produção acadêmica é norteada por temas como a esperança enquanto eixo norteador da vivência cristã, manifestada concretamente em ações na esfera individual e coletivamente; atualmente, é uma das maiores vozes do cristianismo na esfera das discussões quanto ciência e ética, ética planetária, saber espiritual e ecologia dialogando com a ciência.

No livro que colocamos no link, ele expõe uma perspectiva importante da Teologia Cristã, muitas vezes eclipsada por abstrações impessoais de Deus, ou projeções psicológicas nele de tiranos da Terra. Mas muitas tradições e contribuições de gigantes pensadores da fé expõem que a visão bíblica, atingindo o ápice com a Paixão de Cristo, fala de Deus como participante do sofrimento humano e de toda a criação. Participa, envolve-se e assim arquiteta uma Nova Realidade.

Martinho Lutero falava da “Teologia da Cruz”, em contraposição a Teologia da Glória. E este aspecto do seu pensamento, um dos principais, raramente vem à tona ao se lembrar do reformador.

No Cristo crucificado é que estão a verdadeira teologia e o verdadeiro conhecimento de Deus.
LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas. Vol. 1. São Leopoldo e Porto Alegre: Sinodal, 1987, p. 50.

Ele dizia que o ser humano, levado por sua racionalidade e pegando como matéria-prima o que pode observar, acaba sendo conduzido a engendrar uma imagem de Deus que de forma alguma expressa algo de Seu caráter próprio, da forma que Ele quer se dar a conhecer. Erguemos edifícios de sistemas de pensamento que justificam o status quo, projetos de poder, exaltação pessoal ou de outros constructos meramente humanos. Dizia que a maior revelação de Deus se dava, por Ele próprio, na entrega de Cristo ao sofrimento e cruz.

Quem reconheceria que aquele que é visivelmente humilhado, tentado, condenado e morto é, internamente e ao mesmo tempo, sobremodo enaltecido, consolado, aceito e vivificado, não fosse o Espírito ensiná-lo pela fé? E quem admitiria que aquele que é visivelmente enaltecido, honrado, fortificado e vivificado é internamente rejeitado, desprezado, enfraquecido e morto de maneira tão miserável, se a sabedoria do Espírito não lhe ensinasse isso?
LUTERO, IV, 439, 19-24 apud EBELING, Gerhard. O Pensamento de Lutero. São Leopoldo: Sinodal, 1986, p. 83.

Em meio às dores e angústias pelas quais passamos ou estamos sempre sujeitos a passar, mesmo inadvertidamente, ou as que vemos assolando o mundo, e buscando encontrar em Deus alguma força ou inspiração para lidarmos com isso tudo, se não voltarmos nossos olhos para essa manifestação dEle no sacrifício, no sacrifício de Jesus Cristo, dificilmente não toparemos com a divindade da “Teologia da Glória”, não escapando do sentimento de absurdo e podendo cair no desespero. Na “Teologia da Cruz”, conhecemos que, de acordo com o teólogo japonês Kazoh Kitamori, “Deus é o senhor ferido que experimentou a dor em si mesmo”.

Encontramos aí um, melhor, ocorre um encontro mútuo com um companheiro de luta e de peregrinação. Um companheiro que nos compreende. Compreendendo isto, quando nossos problemas não são resolvidos como num passe de mágica, não nos desiludimos com Deus julgando-O insensível. Sabemos apenas que estamos no “ainda não” de seu propósito para a vida. Não temos todas as respostas aqui: mas temos um sentido para suportar e enfrentar a dor. O termo hebraico empregado para a Compaixão de Deus na Bíblia é rhmjm, que é o mesmo para indicar o ventre materno. Pode-se dizer que Deus compartilha do sofrimento de Suas criaturas, tomando-as em Si como as dores de uma parturiente; Ele dará a luz a uma Nova Criação, e em Seu Reinado “Ele enxugará de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” Apocalipse 21:4

Aqui, Deus não é compreendido como uma divindade que obriga milhões de gerações ao sofrimento e à extinção sem Ele mesmo ser afetado pelo processo, mas antes, como um Deus que participa do processo e compartilha o sofrimento e a morte do mundo. O preço pelo desenvolvimento da vida é pago não apenas pelas criaturas de Deus, mas pelo próprio Deus.
George L. Murphy, Cosmologia, evolução e biotecnologia, p.261. in: BENNET, Gaymon, PETERS, Ted (orgs). Construindo pontes entre a ciência e religião, Eds. UNESP e LOYOLA, São Paulo.

Alguém pode perguntar, “isso é apenas uma forçação de barra, uma resposta forçada para que a religião cristã abarque algo que nunca pretendeu, porque hoje as pessoas estariam mais sensíveis ao sofrimento? Ou isto realmente, de forma procedente, fazia parte do cristianismo desde seu nascimento?”

Eu poderei responder me remetendo a uma obra que estuda exatamente esse ponto essencial abordado pela Teologia da Cruz, presente no nascimento do cristianismo. Deixarei a tradução de uma resenha, a respeito dela [pois não fora traduzida ainda no Brasil], logo mais à frente, daqui a alguns dias.

20 de julho de 2009

Dia do Amigo



Apesar de (e talvez, felizmente) muito menos explorado pelo mercado e pela publicidade mercadológica, em relação a outras datas dedicadas aos relacionamentos, hoje se comemora o Dia Mundial do Amigo. Sim, hehe, lembro muito bem dos episódios do Chaves sobre as Festas da Vizinhança, e mesmo o Dia do Amigo, rsrs.

Sem dúvida é algo que confere cor, sabor e aroma à nossa peregrinação - a amizade. Amizade que nunca nem ninguém pôde contar com o número de “1 milhão”, como Roberto Carlos dizia que gostaria, mas que mesmo uma, uma amizade sincera na vida é de valor inestimável.

O livro biblico sapiencial de Provérbios dedica alguns aforismos diretos e claros, como é sua característica, a respeito da amizade, algo muito prezado pela sabedoria antiga e tema de grandes baladas épicas e provérbios: "Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão." – Provérbios 17-7.

O livro de Sabedoria, importante obra também da literatura judaica, ressalta: "Não te esqueças de teu amigo nos teus pensamentos; no meio da riqueza, não percas a sua lembrança." – 37.6

Santo Agostinho narra em suas “Confissões” sobre um período de muita dor quando da morte de um amigo. Eles foram criados juntos, companheiros de infância, de escola, mas que só se estabeleceu uma amizade íntima tempos depois, quando lecionavam juntos, ainda jovens. Eram companheiros de confissões mútuas, folgazarras e discussões filosóficas. Agostinho conta que afastara o amigo da fé cristã [ali ele narra sua vida na época de apostasia da fé da mãe]. E que este, atingindo por dores e febres, convalescente, fora batizado estando inconsciente por medo de que estivesse à beira da morte. Durante um momento de boa melhora, Agostinho fora até ele e se pusera a zombar do batismo, dizendo que nada valia já que o amigo não estava provido da plena faculdade de sentidos quando fora feito. Para seu espanto, o amigo o admoestou e disse que se Agostinho quisesse perpetuar a amizade não falasse mais com ele assim. O filósofo decidira deixar a discussão para mais tarde quando o moço se restabelecesse de vez. Nunca aconteceu.

Deixo aqui fragmentos de suas memórias, em que Santo Agostinho desabafa, já enxergando seu passado à luz da sua nova vida, abraçada a fé, após o encontro com Cristo. Escutemos o seu desabafo, ao relembrar o acontecido, repleto de emoção, vivacidade e honestidade com Deus e consigo mesmo:

Que dor fez anoitecer o meu coração! Tudo o que via era morte para mim. A pátria me era um suplício, e a casa paterna tormento insuportável, e tudo o que o lembrava transformava-se para mim em crudelíssimo martírio. Buscavam-no por toda parte meus olhos, e o mundo não mo devolvia. Cheguei a odiar todas as coisas, porque nada o continha, e ninguém mais me podia dizer como antes, quando chegava depois de alguma ausência: “Ali vem ele”.
(...)
Maravilhava-me de que sobrevivessem os outros mortais a seus amados se nunca houvessem de morrer; e mais me maravilhava ainda de que, morto ele, eu continuasse a viver, porque eu era outro ele. Bem disse um poeta quando chamou ao amigo “metade da sua alma”. E eu senti que minha alma e a sua não eram mais que uma em dois corpos, e por isso causava-me horror a vida, porque não queria viver pela metade; e ao mesmo tempo tinha muito medo de morrer, para que não morresse de todo aquele a quem eu tanto amara.
(...)
O que mais me confortava e alegrava eram sobretudo as consolações de outros amigos, com os quais partilhava o amor para o que amava tem teu lugar, isto é, uma fábula enorme, uma longa mentira, cujo contato impuro corrompia nossa mente, arrastada pelo prurido de ouvir aquilo que a agradava; fábula esta que não morria para mim, ainda que morresse algum de meus amigos.
Outros prazeres havia neles que cativavam mais fortemente minha alma, como conversar, rir, agradar-nos mutuamente com amabilidade, ler juntos livros bem escritos, gracejar uns com os outros e divertir-nos juntos; às vezes discutir, mas sem ódio, como quando discordamos de nós mesmos para, com tais discórdias muito raras, temperar as muitas conformidades; ensinar ou aprender reciprocamente muitas coisas, suspirar impacientes pelos ausentes e receber alegres os recém-chegados. Estes sinais, e outros semelhantes, que procedem de corações que se amam, e
que se manifestam no rosto, na fala, nos olhos, e em mil outros gestos graciosos, inflamavam nossas almas, como em uma centelha, fazendo de muitas uma só.

É isto o que se ama nos amigos; e de tal modo se ama, que a consciência humana se julga culpada se não ama ao que a ama, ou se não retribui amor com amor procurando na pessoa do amigo apenas o sinal exterior de sua benevolência. Daqui o pranto do luto quando morre um amigo, as trevas de dores, e as lágrimas que inundam o coração quando a doçura se transforma em angústia, e a morte dos que morrem na morte dos que vivem.
Bem-aventurado o que te ama, Senhor, e ama ao amigo em ti, e ao inimigo por amor a ti; só não perde o amigo quem tem a todos por amigos nAquele que nunca se perde. E quem é este, senão nosso Deus, o Deus que fez o céu e a terra, e os enche, porque, enchendo-os, os criou?
Ninguém, Senhor, te perde senão o que te abandona.

17 de julho de 2009

Tempo com Deus









"Mas aprender
o ponto de intersecção do sem-tempo
com o tempo, é tarefa do santo -
tarefa não, mas algo dado
e tomado, em morte de amor por uma vida nova,
ardor e quebranto e entrega de si mesmo".

T. S. Eliot


Estes dias me deparei com alguns aforismos repletos de tremenda profundidade, impacto e sabedoria de Jean-Yves Leloup, conhecido na tradição cristã ortodoxa oriental como “Padre João Serafim”, no belo livro “Escritos sobre Hesicasmo – uma tradição contemplativa esquecida”. Recomendo esse livro de todo o coração nesses períodos turbulentos e histéricos que vivemos, para recuperarmos uma noção de espiritualidade integrada com o nosso todo e com o Todo do cosmos, infundida de Deus e aberta à irradiação da doçura vibrante do Altíssimo. Para serenar e fortalecer o espírito, não como escapismo ou uma visão ululante de espiritualidade, mas para ter forças para enfrentar a lida crua do cotidiano sem perdermos o mais importante.

Esse fragmento para mim expõe a essência e o alcance do livro: “Meditar é antes de tudo entrar na meditação e no louvor do universo, pois ‘todas as coisas sabem orar antes de nós’, dizem os padres [personagens influentes, para o pensamento e prática do cristianismo, dos primeiros séculos da igreja]. O ser humano é o lugar onde a oração do mundo toma consciência dela mesma. O ser humano está aqui para dar um nome ao que todas as criaturas balbuciam...

A meditação, disciplina contemplativa e a integralidade corpo/espírito no exercício devocional são legados inestimáveis que os cristãos ocidentais eclipsaram e precisam, precisam e muito, recuperar, para escapar da fabricação forçada de sentimentos fervorosos que podem beirar à histeria, não à comunhão com o Espírito.

"É conhecida a história daquela pessoa que empurrava, empurrava para abrir a porta. Quando era pára, esgotada de tanto empurrar, a porta se abre... mas no outro sentido...
Nós achamos que buscamos a Deus, mas é Ele que nos busca. Nossa tarefa não é apoderarmo-nos dele, é acolhê-lO.
"

Domingo último a leitura do evangelho me remeteu a um episódio especial e providencial da história cristã nos últimos mil anos. É a comissão de Jesus aos discípulos em Marcos 6, 6b-13:

Ele percorria as aldeias dos arredores, ensinando. Ele chama os Doze. E começa a enviá-los dois a dois, dando-lhes autoridade sobre os espíritos impuros. Deu-lhes instruções de nada levar para o caminho, exceto um bastão; nem pão, nem alforje, nem dinheiro no cinto, mas, como calçado, sandálias, ‘e não vistais duas túnicas’. E lhes dizia: ‘Se em algum lugar entrardes numa casa, permanecei ali até sairdes do lugar. Se numa localidade não vos acolherem e não os escutarem, saindo dali, sacudi o pó dos vossos pés: com isso eles terão um testemunho’. Eles partiram e proclamaram que era preciso converter-se. Expulsavam muitos demônios, faziam unções com óleo em muitos doentes e os curavam.


São Francisco de Assis, a esta altura já convertido ao evangelho e decidido a uma vida dedicada especialmente e integralmente em servir a Cristo e ser sal e luz, ouvira este texto numa missa e proclamara algo como “É isto, é isto o que eu quero” em plena missa, repleto de júbilo. E decidiu que estaria neste trecho o paradigma para o modo de ser de sua vida e missão, o sentido para sua existência e o trabalho que iria desencadear com muitos outros.

À luz do trecho de Jean-Yves, deixo aqui o Cântico do Irmão Sol, para iluminar nossa reflexão sobre essas palavras.

Altíssimo, Onipotente, Bom Senhor,
Teus são o louvor, a glória e a honra e toda bênção.
A Ti somente, Altíssimo, são devidos
e homem algum é digno de Te mencionar.

Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas,
especialmente meu senhor o irmão sol
que, com luz, ilumina o dia e a nós.
E ele é belo e radiante com grande esplendor:
de Ti, Altíssimo, carrega significação.

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã luz e as estrelas,
no céu as formaste claras e preciosas e belas.

Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento
e pelo ar e nublado e sereno e todo o tempo
pelo qual dás sustento às Tuas criaturas.

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água
que é muito útil e humilde e preciosa e casta.

Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo
pelo qual iluminas a noite e ele é belo e festivo e robusto e forte.

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa mãe Terra
que nos sustenta e governa e produz diversos frutos
com coloridas flores e ervas.

Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles
que perdoam por teu amor
e suportam enfermidades e tribulações.
Bem-aventurados aqueles que sustentam a paz porque por Ti,
Altíssimo,
serão coroados.

Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã morte corporal
da qual nenhum homem vivente pode escapar.
Infelizes aqueles que morrem em pecado mortal;
bem-aventurados aqueles
que se encontram em Tua santíssima vontade
porque a segunda morte não lhes fará mal.

Louvai e bendizei a meu Senhor
e agradecei e servi-O com grande humildade.

Que o Deus Triúno, o Absoluto, Eterno, Insondável, Terno, Redentor, possa nos conduzir ao encontro com o Sagrado de forma a preencher nossas vidas com a paz que o mundo não pode nos dar.

" A via do peregrino não se opõe às preocupações sociais e ao desejo de justiça do ser humano contemporâneo. Ela lembra apenas que uma mudança da sociedade sem uma mudança do coração humano está votada, mais dia ou menos dia, ao fracasso, e o coração do ser humano só pode mudar se ele se sentir amado, pelo menos uma vez, infinitamente amado, e se ele consente neste Amor que pode libertá-lo de sua vaidade e de sua vontade de poder, porque encontrou seu peso de luz."

Jean-Yves Leloup

12 de julho de 2009

Dia Mundial do Rock

Hoje, 13/07, é o dia mundial do Rock!!!

E para homenageá-lo, e como brinde a toda galera fã, simpatizante ou dedicada à grande família que é o rock’n roll, a grande árvore com seus diversos ramos com todos os estilos, do mais pesado ao blues clássico, deixaremos três grupos diversos.

O primeiro é o “Rosa de Saron”, brasileiro, de metal melódico com uma canção chocante, "Anjo das Ruas".




O segundo, de Metalcore internacional, "As I Lay Dying", grande grupo cujo vocalista, Tim Lambsis, expressou algo que é exatamente a forma como concebo a perspectiva de ser um artista cristão da cena musical do "showbusiness", íntegro e aberto:

"Não tenho certeza qual é a diferença entre cinco cristãos tocando numa banda e uma banda cristã. Se você realmente acredita em algo, então isto afetará todas as áreas da sua vida. Todos nós da banda somos cristãos. Eu acredito que a mudança começa comigo primeiro, e a consequência é que as nossas letras não soam como sermões. Muitas de nossas músicas são sobre a vida, erros, relacionamentos e outros assuntos que não se encaixam necessariamente em uma categoria espiritual. Entretanto, todos estes tópicos são escritos de um ponto de vista cristão". As bandas brasileiras têm taaaanto a aprender com isso...

Este petardo deles chama-se “The Sound Of Truth”. Tradução:

O Som da Verdade
Temos ouvido tudo o que queriamos ouvir
"verdades" que soam bem aos nossos ouvidos

Mas que sabedoria existe em nós
Para vivermos de acordo com nossos corações?
Quantas vezes a intuição nos desapontou
Não para pensar até o fim
Não para ser questionado
Diga o que queres dizer
Quando sua ambição te chama
Para que serve orar
Se você só ouvirá o que quer ouvir?

Falamos de lutar para resistir a este mundo
Mas e a batalha que existe dentro de nós?
Se temos escolhido viver ao contrário
Então como estamos diante do mesmo caminho?
Não há diferença entre nós e eles
Se tão cegamente buscamos a verdade dos sentimentos



E finalizamos com uma super-pérola, uma bonita balada de um dos maiores bluesman de todos os tempos ao meu ver, Glenn Kaiser, com a música “Most Of All”.

Maior de Todos:

Maior de todos
Lembro-me do vento frio soprando em toda a minha face
Um fio de gelo alongava-se sobre o meu cabelo
Como eu perambulei solitário à toa, de cidade em cidade
Tentando sacudir a minha tristeza e desespero
E então eu ouvi-O a chamar-me
Então eu senti o Seu amor eterno por mim
E então, finalmente pude ver
Que o sol havia brilhado o tempo todo
Ah, e eu me lembro ruas escuras
O outono de Novembro indo embora
Eles murcham e caem todos mortos
Mas ainda de alguma maneira eu sempre esperei viver para ver a Primavera
Seu amor foi o que eu precisava mais do que tudo
E se eu não entendia a busca em Seu coração
Eu realmente não poderia cantar essa música plenamente
Mas Jesus sabe aonde você está
E embora você possa ganhar o mundo
Se você perder a sua alma, então você perdeu tudo
Se você perder a sua alma, então você perdeu tudo
E então O pregaram em uma árvore
E então, Ele morreu, Ele morreu por você e eu
Mas Ele está vivo, e Ele quer vê-lo livre
E tudo que você tem que fazer é crer
Sim, tudo que você tem que fazer é receber
Senhor, Seu amor foi o que eu precisava mais do que tudo




Sentiram a pressão?

Shalom!!!

10 de julho de 2009

Calvino: 500 anos


Hoje se comemora 500 anos do nascimento de um dos mais importantes teólogos cristãos da história: João Calvino.

O alcance e volume de sua obra, a argúcia e consistência de seu pensamento, bem como a amplitude dos temas abordados fazem dele um daqueles profícuos pensadores dos quais não se precisa ser um seguidor, no caso, um “calvinista”, para poder acolher diversos pontos e aprender com diversas elaborações e abordagens.

Ao mencionar o seu nome, costuma-se vir à tona imediatamente a doutrina da predestinação, embora ele não a inaugurara: Santo Agostinho, a partir do volume X de suas “Cidade de Deus”, a enfatizara de forma mais recrudescida do que dos escritos anteriores. No período "medieval", John Scotus Erigena, Bernard de Clairvaux, Gregório de Rimini, Hugolino de Orvieto, foram importantes teólogos a apoiarem a idéia de uma predestinação pró-ativa.

Embora a veemência com que Calvino tratara desta doutrina faça por merecer a associação entre seu nome e ela, ao contrário do que alguns pensam não se constitui no aspecto que ele buscava destacar na sua obra. Na verdade, seus seguidores na via chamada “ortodoxia reformada” se concentraram muito mais nela do que o próprio Reformador, que no seu escrito principal – as Institutas [que quer dizer “Instrução”] da Religião Cristã - em que apresenta seu pensamento sobre o cristianismo de maneira mais sistematicamente, em dezessete capítulos, dedicara um capítulo [na edição brasileira, pois na edição original os livros são desmembrados em mais capítulos, e nela seria quatro- contudo, a proporção em relação ao total da obra se mantém] o oitavo, no livro III (de quatro), ao assunto.

Outro grande disparate que proclamam a respeito dele é que enfatizara que as riquezas seriam os sinais da salvação da pessoa. Isso na verdade seria uma declaração que buscaria se apoiar na obra do grande cientista social Max Weber, “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”. Mas Weber nunca asseverara tal maluquice. Na obra ele escreveu:
Por outro lado, contudo, não temos qualquer intenção de sustentar uma tese tola e doutrinária, pela qual o espírito do capitalismo (no sentido provisório do termo acima citado) possa ter surgido apenas como resultado de certos efeitos da Reforma, ou mesmo que o capitalismo, como sistema econômico, seja efeito da Reforma. O fato de que certas formas importantes de organização capitalista dos negócios são sabidamente mais antigas que a Reforma bastaria, por si só, para refutar tal afirmação.
(...)
Adotaremos pois, como ponto de partida na investigação das relações entre a velha ética protestante e o capitalismo, o trabalho de Calvino, o Calvinismo e outras seitas puritanas.
Não deve porém ser entendido que devemos ter a esperança de encontrar nos fundadores ou nos representantes de tais movimentos religiosos os promotores daquilo que chamamos de espírito do capitalismo, com o sentido de finalidade de vida. Não podemos garantir que a ambição de bens materiais, concebidos como um fim em si mesmos, fosse para qualquer um deles um valor ético positivo.
(...)
Teremos pois de admitir que as conseqüências culturais da Reforma foram, em grande parte, talvez até no aspecto particular em foco, resultantes inesperadas e mesmo indesejadas do trabalho dos reformadores. Estas foram muitas vezes bastante distantes ou até mesmo opostas a tudo o que eles mesmos pensaram obter.
(...)
De início, parece misterioso ó modo como a indiscutível superioridade do Calvinismo na organização social possa estar relacionada com a tendência do indivíduo para sair dos laços apertados com os quais fora amarrado a este mundo. Porém, por estranho que pareça, ela provém da forma peculiar que o amor fraterno cristão foi forçado a assumir sob a pressão do isolamento interior do indivíduo, pela fé calvinista. Em primeiro lugar, é uma decorrência dogmática. O mundo existe para servir à glorificação de Deus, e só para este propósito. Os cristãos eleitos estão no mundo apenas para aumentar a glória de Deus, obedecendo Seus mandamentos com o melhor de suas forças. Deus, porém, requer realizações sociais dos cristãos, porque Ele quer que a vida social seja organizada conforme Seus mandamentos, de acordo com tais propósitos. A atividade social dos cristãos no mundo é apenas uma atividade in majorem gloria Dei. Este caráter é pois partilhado pelo trabalho dentro da vocação, que propicia a vida mundana da comunidade.
(...)
Por outro lado, para obter esta autoconfiança, era recomendada uma intensa atividade temporal como meio mais adequado. Esta, e apenas esta dissiparia as dúvidas religiosas e traria a certeza da graça.

Assim, as inferências de Weber eram que, para os fiéis lidarem com a ansiedade religiosa gerada pela doutrina da predestinação, assumiam uma profunda e disciplinada dedicação ao trabalho e austeridade no lidar com as finanças; e como tal, fomentou um tipo particular de ação econômica promovedora da livre-iniciativa e da poupança, internalizados psicologicamente e expressos numa ética de racionalização da organização social.

É importante frisar que Weber não era teólogo, e portanto, engendrou comentários sobre obras teológicas na qualidade de um leigo comum, não valendo nestes sua autoridade de cientista social. Também, ele não dedicara-se a um estudo direto das fontes nas obras de João Calvino, mas se referiu a elas por leituras de segunda mão e baseado nos escritos dos discípulos puritanos.

Calvino também costuma ser acusado de arremeter contra a obra de Nicolau Copérnico baseado numa interpretação literalista dos primeiros capítulos de Gênesis e versos poéticos dos Salmos, advogando impedernidamente o Heliocentrismo. Tal versão fora promulgada por um historiador, Andrew Dickson, no livro “History of the warfare of science with theology”:

Em seu Comentário de Gênesis, Calvino foi um dos primeiros a condenar todos aqueles que afirmavam que a terra não era o centro do universo. Ele encerrava a questão recorrendo à conhecida referência ao primeiro versículo do Salmo 93 e perguntava: “Quem ousará pôr a autoridade de Copérnico acima da autoridade do Espírito Santo?”

Na verdade, Andrew cometera o maior pecado do historiador: o blefe. Não existem tais palavras de Calvino em seu comentário.

O sociólogo Robert K. Merton na obra - Ciencia, tecnología y sociedad en la Inglaterra del siglo XVII, Madrid: Alianza Editorial – assevera que na formação e consolidação da importantíssima academia científica, a Royal Society, figuravam líderes religiosos e leigos calvinistas e desenvolve um estudo a respeito da racionalidade motivadora do empreendimento científico deles na obra de Calvino.

Em Sociologia: teoria e estrutura - São Paulo : Mestre Jou, 1970, ele aponta:

Dentre os líderes influenciados pelas forças religiosas encontravam-se espíritos tais como John Wilkins, John Wallis e, pouco depois, Robert Boyle e Sir William Petty. (p. 684).

No Novo Mundo (EUA), os correspondentes e os membros da “Royal Society” que viviam na Nova Inglaterra, eram ‘todos treinados no pensamento calvinista.’ Os fundadores da Universidade de Harvard vinham da cultura calvinista, não da era literária do Renascimento ou do movimento científico do século XVII (p. 688)

Em uma outra oportunidade, tratei no blog AD CUMMULUS, com o qual colaboro como convidado, a respeito do polêmico caso da condenação à morte de Miguel de Servet, caso que muitos invocam para pintar o estereótipo de João Calvino como um sanguinário incendiário de pessoas.

Corrigimos aqui também os apontamentos de que Calvino apregoava que Deus desejava que apenas umas pessoas fossem salvas, e que Cristo teria vindo ao mundo e realizado sua obra em sua Morte e Ressurreição apenas pelos “eleitos”, e não por todo o mundo:

Devemos agora ver de que modo nos tomamos possuidores das bênçãos que Deus nos concedeu em seu Filho unigênito, não para uso particular, mas para enriquecer o pobre e o necessitado. E a primeira coisa em que se deve prestar atenção é que, enquanto estamos sem Cristo e separados dele, nada do que ele sofreu e fez pela salvação da raça humana é de benefício mínimo para nós. Para comunicarmo-nos as bênçãos que ele recebeu do Pai, ele precisa se tornar nosso e habitar em nós
[Institutas, 1.3.2).

Esta é a nossa liberdade, esta é a nossa glória contra a morte, a de que nossos pecados não nos são imputados. Deus diz que essa redenção foi obtida pelo sangue de Cristo, pois pelo sacrifício de sua morte todos os pecados do mundo foram expiados.
[Comentários a Colossenses, 1.15].

Quando ele comenta sobre as palavras de Cristo na Ceia, “isto é o meu sangue, que é derramado por muitos”, ele proclama:

A palavra ‘muitos’ não significa uma parte do mundo apenas, mas toda a raça humana: Jesus contrasta muitos com um, como se dissesse que não seria redentor de uma pessoa apenas, mas iria para a morte para libertar muitos de sua culpa maldita. É incontestável que Cristo veio para a expiação dos pecados do mundo todo.
[Eternal predestination of God, IX, 5).

Despedimo-nos deixando um fragmento do pensamento de Calvino, do livro III das Institutas:

Nós, de um lado, atribuímos a Deus tanto a predestinação como a presciência, mas julgamos absurdo subordinar uma à outra. Quando atribuímos presciência a Deus, entendemos que todas as coisas sempre estiveram e eternamente estarão perante seus olhos, de modo que, para o seu conhecimento nada é futuro ou passado, mas todas as coisas são presentes; presentes não no sentido de que são reproduzidas na imaginação (assim como nós estamos conscientes dos acontecimentos passados retidos em nossa memória), mas presentes no sentido de que Ele realmente vê e observa as coisas em seu lugar, como se estivessem ante seus olhos. Esta presciência se estende a todo universo e a toda criatura.

HINO DO V CENTENÁRIO DE CALVINO (Em Rocha Firme - João Wilson Faustini) - partitura e mid

5 de julho de 2009

Alguém como eu...

Deixo de brinde esse tesouro de canção, linda, profunda, de melodia e harmonia impecável, de um grande artista cristão do Brasil - Stênio Marcius; "Alguém como eu". Suas músicas são um oásis.

O evangelho deste domingo na liturgia fora a passagem de Marcos no capítulo 6:
Tendo Jesus partido dali, foi para a sua terra, e os seus discípulos o
acompanharam. Chegando o sábado, passou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-o, se maravilhavam, dizendo: 'Donde vêm a este estas coisas? Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais maravilhas por suas mãos? Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas e Simão? E não vivem aqui entre nós suas irmãs?' E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: 'Não há profeta sem honra, senão na sua terra, entre os seus parentes e na sua casa'. Não pôde fazer ali nenhum milagre, senão curar uns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos. Admirou-se da incredulidade deles. Contudo, percorria as aldeias circunvizinhas, a ensinar.


Nazaré era uma pequena vila, em que todos conheciam todos. As pessoas viram Jesus crescer como um menino normal, uma pessoa normal entre os seus. Na certa, pelo que apresenta os evangelhos, destacando por sua vida religiosa desde menino. Mas não podiam imaginar alguém diferente do resto do mundo, tão especial, assim, comum. Não o receberam.

As intervenções especiais de Deus no mundo não são para completar lacunas na sua criação; mas são ligadas ao seu plano histórico, redentor, e o faz assim porque não lida com peças de dominó, mas seres pessoais. As pessoas se fecharam a ação especial de Deus, em Jesus, na sua vida. O que ficou da passagem de Jesus na vida deles fora isso. O cotidiano. Ele fora depois ministrar para a redondeza...

E o que fica em nós pela passagem de Jesus em nossas vidas? Como Jesus fica em nossas vidas quando passa por elas?

Essa música nos ajuda a refletir para responder a nós mesmos sobre essas indagações.

Entra Mestre,descansa um pouco
Estás cansado, estás sedento e rouco
Dorme Mestre, a casa é Tua
Já fechei porta e janela pra rua

Deixou me falando só
Dormiu tão pesado fazia dó
Como será Mestre este sonho Teu?
Sonhas como homem? sonhas como Deus?
Sonhas com a glória que tinhas com o Pai, na luz?
Ou sonhas com a cruz?

Perdoa Mestre, mas já é hora
Uma multidão te espera lá fora
Estás decidido, não te detenho
Vais curando até chegar ao lenho

Partiu,fica a paz em mim,
Fica sala com cheiro de jasmim
Vai verter a vida do corpo Seu,
Pra levar a culpa de alguém como eu,
Pra lavar o sujo do meu próprio eu,
Levar-me puro a Deus