12 de junho de 2010

Dia dos Namorados

Existem extensos comentários atuais sobre o livro dos Cânticos, e diversas interpretações de variadas nuances ao longo da história. Portanto, é imaturo alguém apontar para uma e dizer “é essa A Tal”. Mas o “Cristianismo, Meramente” optou por abordar uma “via média” entre as nuances, e se apoiar também nas análises que mais levam em conta os estudos culturais sobre os povos semitas e da região siro-palestina, e que evitem extremos em algumas das nuances, com o foco do propósito do nosso espaço aqui e especialmente agora, a escolha dele para ser postado no “Dia dos Namorados”. Considero importante essa dedicação, ante o que é marca do nosso mundo, a estrita submissão dos símbolos ao consumismo utilitarista e mercantil. E contra as interpretações do amor hoje em termos de um pseudo-romantismo vitoriano, que prevalece no marketing, abrindo caminho para que a dimensão sensual fique entrincheirada na vulgaridade livre.

O livro “Cântico dos Cânticos” pode ser considerado um apaixonado e sensível poema de amor; o amor e o desejo são os conteúdos principais da música, que pouco alude a Deus. É uma poesia de amor, amor humano, e desejo erótico – desprovido de lascívia mórbida – que aclama o carinho sexual sem rodeios. O anelo pela carícia é apresentado como parte da essência pessoal, como algo pelo qual a alma também anela, indo de encontro a conceitos e discursos dualistas e etéreis sobre a alma e suas aspirações. É uma folia. Os poemas do “Cântico dos Cânticos” foram originalmente criados como letra de música a ser cantada e executadas, com o acompanhamento de instrumentos musicais e dança. Mistura drama e júbilo, melancolia e festejo, introspecção e folia.

Provavelmente é uma canção retomada das celebrações de casamento do povo judeu antigo. Os pares recém-casados são tratados como “reis e rainhas”, com donzelas indo receber o noivo e escoltando o casal até a casa onde ficaria a “câmara nupcial”. Os aldeões se reuniam geralmente até uma semana, ou antes, deste dia, havendo música, louvor, comida e bebida antecipando o principal banquete nupcial. Tal é muito bem documentado nos textos e achados arqueológicos da região, e os paralelos no texto são evidentes, basta rápidas olhadas nas passagens quanto a dança da Sulamita. Podemos ter apenas vagas noções sobre a característica das músicas e acompanhamento.

Algumas pequenas e fugidias luzes a respeito na Bíblia:

Juízes 11.34: "(...)adufes (um tipo de tamborim) e danças".

Jeremias 16.9: “voz de regozijo e voz de alegria, canto do noivo e da noiva”.

Jeremias 31.13: "Então, a virgem e alegrará na dança (...)"

Salmo 19.6 : “o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói)”.

Mateus 25.1 : “dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo”.

Outra cena importante é o cenário de João 2:1-12, nas bodas de Caná.

E a inclusão deste livro já no cânon hebraico, o que implicaria? Podemos remeter à lembrança de que Deus está interessado em mais do que apenas os nossos cérebros e nossos espíritos, ele consagra nossos corpos no baile da dinâmica viva da criação. A presença de um livro de tal gênero nos lembra que não somos apenas uma alma encerrada em um corpo, mas, feitos à imagem de Deus, como um todo, na integralidade de nossa pessoa. Afinal, o mesmo termo é usado na bíblia hebraica, tanto para amar a Deus quanto para amar os seres humanos ( vide a raiz hebraica transliterada BH' ).



Preta eu estou, mas linda como as tendas de Kedar
Ou como os pavilhões de Salomão
Não me odeie porque o sol me escureceu
Todas as filhas de minha mãe estão zangadas comigo

Elas fizeram-me guardar os vinhedos
O meu próprio, eu não guardei
Em minha cama à noite eu procurei aquele a quem minha alma ama
Oh, eu procurei, procurei, mas não o encontrei

Então perguntei às filhas de Jerusalém
"Onde estará o meu amor? Oh, digam-me se o têm visto"
Majestoso como os imponentes cedros do Líbano
Sua boca tão deliciosa, sua flagrância tão agradável

Tal é meu amado, tal é meu querido
E se você vê-lo diga-lhe que meu coração está ansiando
Pelos beijos de sua boca e seu sabor
Oh, o rei me introduziu em suas câmaras

Diga-lhe que eu me delicio em seu amor
Diga-lhe que ele é o único que esteve em minha alma
Vastas inundações não podem apagar o amor, não importa o que o amor fez
Rios não podem afogar o amor, não importa onde o amor esteja escondido

Então quando você encontrá-lo lá fora
Traga-o para a casa da minha mãe
Para a câmara daquela que me concebeu
Então ele irá conhecer-me e ver-me

Diga a ele que o amor não está acabado
Diga a ele que não me deixe só

6 de junho de 2010

Veni Creator Spiritus

Ainda no espírito do evento de Pentecostes, deixamos como pérola um bonito canto em coral do clássico Veni Creator Spiritus, na Catedral de Notre-Dame . Infelizmente a Igreja cristã, sobretudo no Brasil, costuma deixar de lado os louvores à "Terceira" Pessoa da Trindade, o que reflete na baixa atenção quanto a Festa e o período litúrgico de Pentecostes.




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