5 de novembro de 2009

Os idiomas de Jesus


No ambiente palestino de Jesus, o idioma corriqueiro e de uso geral para o povo era o aramaico, do grupo dos idiomas semíticos tal como o hebraico e o árabe. Haviam sete dialetos, sendo um próprio da região da Galileia. O mais difundido era o Velho Judaico, de Jerusalém e Judéia, o mais indicativo pela análise do grego neotestamentário - o Koiné, de ter sido empregado nas palavras de Jesus, pois a maioria dos termos se traduzem ou transliteram por ele, ao invés de ser o aramaico galileu.

O hebraico não era de uso corriqueiro, era usado especialmente nas cerimônias litúrgicas da Tanak, como é conhecida a Bíblia Hebraica; apesar de que haviam textos especiais em que se era decorado no hebraico, provavelmente Jesus, como alguém que se prontificava a comentar, versar e explicar as Escrituras, deveria conhecer o idioma. Lia em hebraico e explicava em aramaico. É importante lembrar que o hebraico de então recebera seu alfabeto do aramaico.

Observa-se que os discípulos se referiam a Jesus como Rabi, discípulos não se dirigiam a qualquer um como Rabi, apenas Mestres que estudavam a Torah e que ensinavam nas sinagogas, como Jesus ensinava. Era costume levar as crianças para os rabinos abençoarem, como foram apresentadas a Jesus.

Jesus se envolvera em diversos debates religiosos-com os fariseus, embora não fosse anti-farisaico em si; contrapôs, em destaque, os mais vinculados à escola Shamai ( com excessão da questão sobre o repúdio ao cônjuge e quanto pobreza e distribuição). Ele empregava expressões como “eu porém vos digo”, etc., mas não invalidando a Torah, e nem necessariamente deslegitimando os Midrashs Halacás, que eram comentários dos rabinos e doutores da lei, com explicações ou busca de conseqüências aplicativas em âmbitos maiores da Torah (e menos usualmente, os outros escritos) em forma jurídica-religiosa. O que ele se contrapunha eram certas tendências que julgava distorcedoras e/ou contradições- “acautelai-vos do fermento dos fariseus”. “Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem”. Ele faz um elogio de quem era “doutor da lei” e se abre às boas novas, "(...)Assim, pois, todo escriba instruído acerca do Reino dos Céus é comparável a um dono de casa que tira do seu tesouro coisas novas e antigas" - Mt 13.52. Mais do que fazer uma antítese à Torá, o que se infere das polêmicas de Jesus com ela e com os intérpretes se orienta no sentido de que "embora ele não se opusesse à lei. ele indicava, sim, que o mais importante era aceitá-lo e seguilo" ( E.P.Sanders, "Historical Figure of Jesus, Penguin, 1993, p.154). A Judéia o principal centro de formação dos fariseus tanaítas, havendo linhas rabínicas de outras regiões, como p.ex. os chasidim, na Galiléia.

Mais a respeito da relação entre Jesus e os fariseus:

Jesus e os Fariseus: inimigos mortais?

parte II


Não se é precipitado em conceber que Jesus conhecia o grego. Na passagem de João 7:35, também da interpelação aos mestres judaicos, em que referia-se à sua obra vicária, eles comentaram : “"Disseram, pois, os judeus uns aos outros: Para onde irá ele, que não o acharemos? Irá, porventura, à Dispersão entre os gregos, e ensinará aos gregos?" o que também é um forte fator indutivo. Complementado com suas passagens em regiões em que o grego era normalmente empregado, como a Decápole e Fenícia. Outrossim, comerciantes judeus conheciam o grego, e outros prestadores de serviço, dentre os quais, os de ofício de Jesus, o que era importante para a atividade econômica. A profissão de carpinteiro na época não estava perto do mais baixo nível social, propiciava uma educação para além do rudimentar; na hipótese de que fosse um serralheiro, o que alguns exegetas dizem ser melhor identificado com termo tékton, ainda assim, uma prestação de serviços compatível.

A região da Galiléia havia séculos continha um grande contingente de estrangeiros de diversas regiões. Mateus mesmo se refere à Galiléia “dos gentios”. Judéia, Decápolis, Tiberíades, a região de Tiro e Sidom, importantes no ministério de Jesus, eram lugares em que o grego era empregado. Mesmo em Jerusalém havia uma porcentagem significativa de pessoas que falavam o grego. Na cura da mulher nessa região de Tiro e Sidom na Fenícia, acima da Galiléia, a mulher Siro-fenícia (Mc 7.24-30; Mt 15.21-28)se diz que era grega, o que pode (não obrigatoriamente) indicar que a conversa entre os dois teria se dado em grego.

Logo, podemos inferir que além do aramaico, Jesus conhecia hebraico e provavelmente o básico do grego.

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