31 de maio de 2009

FESTA DE PENTECOSTES - parte I


Cinqüenta dias após a Páscoa, Igreja Cristã comemora a Festa de Pentecostes, a "descida" do Espírito Santo na formação da Igreja. Uma das mais importantes comemorações da memória cristã, mas de forma proporcional, muito vaga no imaginário popular. Poucas pessoas têm noção do quê significa para o Cristianismo, e muitos cristãos não têm idéia da dimensão que implica para si.

Vamos prosear um pouco a respeito de Pentecostes. É claro, nossa intenção aqui não é a de esboçar um tratado teológico, mas algo útil para os leitores, um compartilhar de um pouco da espiritualidade cristã com outros cristãos e pessoas de outras crenças.

Tomemos o relato do evento, registrado no livro de Atos, capítulo 2. Está inserido numa sessão, que vai até Atos 8.3, que relata a característica da expansão dos cristãos em Jerusalém e Judéia.

Eles, os discípulos (homens e mulheres) estavam no período da celebração judaica da Festa de Pentecostes. Era também chamada “Festa das Semanas” [Ex. 34.22] e "Festa da Colheita" [Ex.23.16]. Nela davam-se ações de graça pela colheita, era uma das três “Festas de Peregrinação”, em que todos os judeus iam a Jerusalém [Mt. 20.17-19]. Celebrava-se a providência de Deus, e os primeiros frutos da colheita do trigo eram apresentados a Ele no Templo. Comemoravam a entrega da Torah [ os termos da Aliança de Deus] a Moisés – Ex. 19.1.


O Grande Protagonista deste evento envolvendo os apóstolos e os primeiros cristãos fora o Espírito Santo. Com esta compreensão, é necessário, imprescindível, refletirmos um pouco sobre Ele, na perspectiva cristã, para iluminar toda a reflexão.

O termo Espírito Santo, em hebraico é Ruah HaKodesh, aparecendo no Antigo Testamento, em passagens como Isaías 63.10-11. Aparece também o termo “Espírito de Deus”, Ruah Elohim, em Gn.1.2. É evocado também em Is.61.1

Seu caráter pode muito bem ser examinado à luz de suas ações e operações. Em Gn.1.2 e Sl. 104.30, a imagem do Espírito é apresentada como a presença criadora ativa de Deus. Em Isaías 48.16, o contexto é do profeta falando do juízo de Deus sobre a prepotência do orgulho dominador humano. Falava-se sobre o Império Babilônico próximo ao apogeu, poderoso, onde proclama-se que ele passaria com o tempo e cairia como todos os impérios. Israel também estava sendo admoestada por absorver a lógica que advinha da impressão pelo poder babilônico, enxergando a história pela a mentalidade dele, eclipsando a e fechando-se para a ação de Deus. Deus afirma que Sua ação se daria de forma que a interpretação humana da história não advinharia. Um ótimo recurso é termos em mente a imagem que os hebreus tinham do temível “vento leste” [ o termo ruah, em hebraico, significa primeiramente “vento”], que dos grandes desertos sobrevinham abrasadores apresentando as limitações humanas – cf. Is.40.7. Deus manifesta-se com Seu Espírito Santo.

Uma passagem crucial é a do profeta Ezequiel, no capítulo 37.9-10 do livro que leva seu nome. O Espírito vivificando ossos secos em um vale; daí se formou a grande imagem para os judeus da ação de Deus resuscitando seu povo para habitar numa Nova Criação revificada, pela ação e poder do Espírito.

Em Gn. 41.38-39; Ex. 28.3, 35.31; Deuteronômio 34.9; Juizes 14.6 e 14.19, 15.14-15 – o Espírito capacita agentes de Deus com sabedoria (entendida mais como discernimento, prudência e perspicácia do que erudição), destreza, bravura e desenvoltura para executar tarefas especiais.

Em Sl.51.11, Is.61.1, Ez.2.1-2, Miquéias 3.8 e Zacarias 7.12 – a unção [do hebraico Mochia, que conota consagração, dedicação especial, conferição de um dom] do Espírito era o fator de legitimação de um profeta ou mensageiro de Deus. Estaria presente no Messias [O Ungido] -> Is. 42.1-3.

Os evangelhos de Mateus (1.18, 20) e Lucas (1.35) apregoam que Jesus viera ao mundo pelo poder do Espírito Santo, nos relatos de nascimento. Em Lc. 1.35, é apresentado que com o Espírito Santo age o próprio "Poder" - δυναμις [do grego dunamis] do Altíssimo. O Espírito agia através do Messias, que fora ungido e guiado e legitimado pelo Espírito Santo para sua missão (Marcos 1.12, 3,29, Lc. 3.22,4.1; 4.14; 4.18]. Em Mateus, Jesus ordena o batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo Mt.28.17-20; Justino, "o Mártir", em cerca de 150 d.C., no "Apologia I.LXV-LXVII", e o Didaquê - documento que remonta ao final do século I para início do II - na cláusula VII, são fontes que atestam que esta se tornara a prática cristã.

O Espírito Santo, prometido por Jesus, [Lc.24.49, João 14.16], enviado pelo Pai em seu nome [Jo.14.26], seria o mentor da Igreja Cristã comissionada [Jo.14.16, 17.26, At.1.8].

Um detalhe interessante: no Talmude de Jerusalém, compilação de discussões e comentários de rabinos sobre a Torah e a fé, bem posterior aos evangelhos, podia-se ver que havia um entendimento, que nos comentários se dava pela reflexão principalmente da passagem de Mq. 5.1, secundariamente com Zc. 6.12 e Lamentações 1.16, sobre uma figura do Menahem – Consolador, que seria a mesma do Messias (Bettiakhat, 2,4). No Sanhedrin talmúdico, 98b, "Qual é o nome do Messias?..alguns dizem: seu nome é Menahem, o filho de Ezequias, já que está escrito 'Porque Menahem, [confortador] que poderia aliviar minha alma, está longe de mim' (Lamentações, 1.16)". Em Jo 14.16, Jesus porém fala que rogaria ao Pai, que enviaria "outro Consolador", do grego allos Paraklétos, que literalmente é "alguém chamado para estar ao lado".

Cristo se referira assim ao Espírito Santo, o Consolador
em Jo.16.7, enviado até os discípulos, permanecendo com eles para sempre [Jo.14.16], o Espírito da Verdade, que não advém do conhecimento do mundo [14.17]...


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