27 de julho de 2010

Qual a paz que eu quero conservar pra tentar ser feliz?

O profeta Amós teve seu ministério de menos de um ano em um período entre o ano 60 ao início da década de 40 do século VIII antes de Cristo, provavelmente nos meados da década de 50. A nação israelita estava dividida em dois reinos, o “do Norte” e o “do Sul”, Israel e Judá. No primeira havia o reinado de Jeroboão II, e em Judá, Ozias (ou Azarias).

A atuação de Amós, que era proveniente de Téqoa, em Judá, fora no Reino do Norte, que estava em período de grande impulso de desenvolvimento em aliança com o poderoso império de então, a Assíria. Ampliou as fronteiras do reino (II Reis 14: 25; 28). Fora um período de estabilidade, e dos de melhor convivência entre os dois reinos, que se seguravam mutuamente na sua aliança com o Império ante coligações antiimperiais da região siríaca. Amós via a geopolítica pelo prisma ainda do plano de salvação de Deus, e como tal via a união do povo para além das questões políticas-estatais. Neste período propício a grande ufanismo e chauvinismo, e auto-complacência entre o povo, este homem, criador de rebanhos e cultivador de sicômoros, que não era membro do círculo religioso oficial nem de alguma linhagem ligada (Amós 7.14), apresenta algo que soava extremamente perturbador, da parte de Deus:
 
Eu vos punirei por toda a vossa culpa. 3:2
Cuuulpa? Quem é este perturbando a paz?

Ele ataca a consciência despreocupada do povo se julgando privilegiados e acobertados por Deus: “Não mais passarei ao largo por ele mais outra vez” – 7:8;8:2, aludindo a tradição da Páscoa em que Deus “passa ao largo” dos israelitas (Ex. 12:23,12) os poupando, e vai além: “Passarei no meio de ti” – 5.17. Há um juízo pairando sobre a nação. Por que, oras?


Amós sintetiza: “Eles não sabem praticar o que é direito” -3.10.
Eles vendem o inocente por dinheiro
E o pobre por causa de um par de sandálias.
Pisam a cabeça do humilde no pó
E empurram os miseráveis para o lado.
2:6
Eles acumulam violências
e injustiça nos seus palácios.

Houvera ainda por cima um terremoto (prelúdio do livro) em que ficara exposta ainda mais a injustiça, com os mais socialmente vulneráveis suportaram uma carga absurdamente desproporcional das conseqüências, revelando a ilegitimidade e maldade das estruturas opressoras sobre as quais repousava o desenvolvimento do país. E antes todos estavam acomodados com isso. Ele aponta como tal situação era um sintoma crônico de um problema mais profundo: o rompimento da Aliança e a hipocrisia religiosa: a alienação das pessoas ante a Deus e Seu caráter, ainda que aparentemente a religião formal propiciava o cimento para a coesão social. “Vinde a Betel e cometei sacrilégio” -4:4. “Detesto, desprezo vossas peregrinações, não posso suportar vossas assembléias quando me fazes subir holocaustos; e em vossas oferendas nada há que me agrade; vosso sacrifico de animais cevados, dele viro o rosto; afasta de mim o alarido de teus cânticos, o toque de tuas harpas, não posso nem ouvi-lo”. 5:21-23.


É expondo essas gangrenas que o profeta se encontra em sua vocação, e proclamar a visão de Deus o move e nela ele se auto-referencia: 
IWHW me tirou de após o gado e me disse: Vai e profetiza ao meu povo Israel!. 7:15.

A auto-confiança religiosa só fazia aumentar a responsabilidade que o povo pedia pra si – 3:2. Ele apresenta as contradições – 3:3-6; 6:12. Coloca como se estava provocando a soberania e a liberdade de Deus – 9:3. Faz a retrospectiva histórica – 2:9. Exorta ao arrependimento reconhecendo estes pecados – 5:4,5; 6:2. Coloca de forma visceral as conseqüências catastróficas do estado das coisas e a sensação artificial de segurança calcada em mancomunações frágeis 2:6-16. Denunciara a auto-indulgência dos socialmente privilegiados ( madames, comerciantes exploradores, líderes corruptos, magistrados e agentes do direito corrompidos, sacerdotes estelionatários – 4:1;6:1-4;7:8-9). Conclama a lutar contra as estruturas promotoras da injustiça e exploração 2:6-8; 4:4-5; 5:7, 1-11,15, 24;6:12; 7:7-9, pela transformação delas em nome de uma outra racionalidade. (...) “ e mesmo assim vocês não se voltaram para mim” (4:6,8-11).

Chega a um ponto em que a desgraça iminente é inevitável; o castelo de cartas marcadas vai ruir, e o povo vai se machucar 7.10-17.

Ex: Mas o Senhor lhe diz:
‘Sua mulher se tornará uma prostituta na cidade, e os seus filhos e as suas filhas morrerão À espada. Suas terras serão loteadas,
E você mesmo morrerá numa terra pagã.

E toda a ordem geopolítica calcada em semelhantes estruturas sócio-culturais putrefatas desmoronará: 7:1-9:4.

Chegou o fim de Israel, meu povo – 8.2

Mas Deus não deixará que a própria sepultura que o homem cava para si tenha a palavra final 9.11-15. Ele tem um plano redentor, e não entregará a sua boa criação ao mal. Quem se engajará com Ele? Advertência: O sacerdote de Betel denunciou-o ao rei que o expulsou (7:10-17) como perturbador da ordem pública e ameaça à paz social (5:7,15,24;6:12).

Dias virão –
diz o Senhor –
em que o lavrador segue de perto aquele que ceifa,
e o que colhe a uva, àquele que semeia;
em que as montanhas destilam o mosto da uva
e todas as colinas se derramam.
9:13

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