22 de agosto de 2011

Afiado como navalha


Livro de valor inestimável é o Novo Testamento, conquanto eu admita ter desenvolvido um pouco de antipatia contra ele quando criança, devido a Igreja e as aulas de catecismo. Não foi fácil arrancar da cabeça os velhos conceitos e experimentar o verdadeiro paladar. Em verdade, aprecio muito sobremaneira esse livro, conquanto para mim ele seja algo como um castelo que me permito construir no ar. Não consegui chegar a crucificação, pois a toda hora começo a ler. Eu adoraria fazer uma leitura em voz alta dele para meus amigos, alguns dos quais são pessoas bem sérias. Mas instintivamente desisto de conseguir ouvintes.

Realmente, no Novo Testamento há coisas seriíssimas que nenhum homem deveria ler em voz alta mais de uma vez. “Busque acima de tudo o reino dos céus.” “Não acumulem riquezas pra si mesmos aqui na terra.” “Se você quer a perfeição, vá e venda tudo o que é seu e dê o dinheiro aos pobres, assim você ganhará o tesouro do céu.” Se lidar de maneira correta de qualquer tribuna desse país, uma frase dessas seria suficiente para não deixar pedra sobre pedra do prédio a igreja.

Semelhante a essa corrente, com seus gravetos e folhas a flutuar, tudo passava a frente de nossa negociação, enquanto a rotina de sempre se desenrola nas distantes cidades e vendas às margens desse mesmo rio.
Henry David Thoreau, em "A Desobediência Civil e Outros Escritos".

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