9 de maio de 2011

No caminho de Emaus

Uma passagem estritamente lucana, constando apenas neste evangelho; pergunta-se então sobre quais as fontes... Possivelmente, pelas referências explícitas a Cléofas na passagem, adviera de algum recolhimento de um testemunho deste na comunidade cristã nascente e apresenta-o então como alguém muito considerado e de papel importante na atividade proclamatória de Cristo, ou na exortação dentro desta.

Importante isto à luz do clima do quadro de suas caminhadas à Emaús. Era um clima lúgubre. Soturno. Talvez de frustração. O que mostra a melhor perspectiva que ficaria de Jesus caso sua história terminasse na cruz: no máximo, teria sido mais um profeta que indicaria o caminho e a vontade de Deus ao povo, levantara expectativas de redenção para Israel, e ficaria martirizado. Sobretudo, de forma alguma seria considerado mais como O Messias nem proclamado como tal.

Jesus vai ao encontro deles; os encontra e os busca na profunda situação de senso de falta de sentido, de vazio, de abismo escuro. E no encontro com eles, vai lhes dando sentido e nova perspectiva. Agora assim já vão abrindo seus corações para a Revelação dele... que vontade louca de saber como que Jesus expôs as Escrituras...

Então eles o acolhem. O convidam para entrar.

É digno de cuidado não deixar passar despercebido o momento em que é reconhecido: no partir do pão! É como recapitular neste momento fenomenal tudo o que a vida de Jesus representou, seu projeto, seu ensino, sua autoridade. A comunhão, partilha revestida com um senso de assim estar na atmosfera do Sagrado! E Jesus Ressuscitado vem à tona! A continuidade entre Jesus em seu ministério terreno e Jesus Ressurreto é plenamente frisada! E o detalhe de seu “sumiço” não é apenas um tipo de relato milagroso exaltador hagiográfico. Se assinala enfaticamente nas narrativas da ressurreição algo muito estranho: ao mesmo tempo a materialidade de sua natureza, a fisicalidade dela, no caso nosso aqui, caminhando, partindo o pão... onde faz sentido o aparentemente paradoxal tema paulino do “corpo espiritual”, não mais sujeito à deterioração, um corpo de natureza espiritual... e também há cenas de uma supra-materialidade, parece que a realização da expectativa da ressurreição material clássica dos judeus no tempo dos martírios do século II a.C. com a idéia da libertação dos limites e da decomposição material deste mundo. Uma nova natureza, e um atesto para a esperança para a Nova Criação.

Jesus some, num momento em que as testemunhas provavelmente iriam querer detalhes sobre o que ocorrera durante este tempo; iriam querer detê-lo, propô-lo muitos projetos... Mas ali Jesus parte como que dizendo que o que fez foi confirmar o sentido de sua missão, reafirmar o seu comissionamento, e enviá-los ao mundo para dividir com todos esse encontro com ele no partir do pão, na leitura profética das escrituras apontando para sua vitória sobre o mal...

Partilha, algo bem materno. Pois no geral, é um dom bastante materno, em que inclusive, na carência, mães costumam abdicar de si para seus filhos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário