18 de setembro de 2010

Lendo novamente A Parábola do Bom Samaritano

O estudo do contexto histórico, da cultura e das idéias do período dos séculos I a.C. e i d.C. é importantíssimo para lançar luz sobre significados e impactos dos escritos do Novo Testamento, para os ouvintes imediatos e para transpor para nosso tempo. Como já comentamos, o anacronismo desvirtua o sentido para um capricho qualquer; e também acaba retirando muito do impacto original.

Jericó mais baixa do que Jerusalém, e o caminho era uma descida. Era uma estrada de 27 Quilômetros, famosamente perigosa. Para iluminar a parábola do Bom Samaritano, e mostrar o quão provocadora, alguns elementos são muito oportunos de serem resgatados hoje. Por exemplo, o óleo era algo muito empregado na assepsia de feridas; nisto, para evitar ficarem “impuros”, os judeus evitavam o óleos dos samaritanos. E foi justo esse que fora empregado para salvar o judeu ferido na história.

Já é muito comum o entendimento entre a grande rivalidade entre judeus e samaritanos,e o desprezo que os primeiros sentiam pelos segundos. Estes últimos tinham vieses diferentes na sua interpretação da Torá, inclusive com alguns detalhes diferenciados no próprio texto. Tinham diferenças em termos de locais e símbolos sagrados. Os samaritanos tiveram também uma influência mais mista de diferentes culturas para sua religião, embora o judaísmo também o tivesse, obviamente. Com a conquista de Samaria em 722-721 a.C. pela Assíria, a maior parte da população fora deportada, mas não toda, havendo continuidade dos antigos israelitas não-judeus inclusive dentre os galileus do tempo de Jesus.

Atentemos para o que o arqueólogo Shimon Gibson aponta no livro “Os últimos dias de Jesus – a evidência arqueológica”, pg. 24:
A segunda rota pelas montanhas de Samaria era considerada perigosa, porque os samaritanos tinham fama de atacar caravanas de viajantes judaicos. O historiador Josefo relata como, enquanto atravessava o planalto da Samaria, “um grande grupo de judeus a caminho do festival [em Jerusalém]” foi atacado e alguns de seus membros, assassinados. Apesar de Sebaste – a Samaria do Velho Testamento – ser uma cidade pagã, havia forte presença samaritana na zona rural.

Esta ponderação acrescenta maior explosividade ainda para a confrontação que Jesus fizera ao interlocutor. De igual modo, a transposição da parábola para nossa situação, para se manter fiel ao Mestre, não pode perder nenhum ponto de grau de impacto. Exercício: tentemos reler Lucas 10.25-37, assimilando tal espírito. Quem poderia estar no lugar dos samaritanos, e do mestre da Lei?

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