28 de maio de 2010

A Medida de Amar

Em Mateus 18:23-30 Jesus conta uma parábola tradicionalmente referida como “A Parábola do Servo Impiedoso”. Ela aparece num contexto maior, em que o evangelista elenca ensinamentos de Jesus a respeito do caráter da nova comunidade que estava fundando, referenciada no caráter em um plano maior, do Reinado de Deus cujo processo de plenificação estava inaugurando.

Ele antes então faz severas advertências a respeito das tentações que fazem as pessoas humildes a seu serviço caírem – Mt. 18:6-9, dizendo que é do decurso da história humana acontecê-lo, mas ao mesmo tempo enfatiza a responsabilidade pessoal e frisa de forma avassaladora o peso para os responsáveis pelas quedas. Conta sobre a ovelha pedida – Mt. 18:10-14 – falando do drama dos discípulos desviados e de como Deus não desiste deles, pelo contrário, até mesmo se angustia à busca deles. Fala sobre sua representação na Igreja quando buscam lidar com pessoas em erro dentro dela, quando o parâmetro é a compaixão, o respeito pela privacidade e dignidade da pessoa, a busca de reconciliação, até o limite da falta de escrúpulos e arrependimento de quem está errado Mt. 18:21-22, e não na disposição em perdoar. A Parábola do Servo Impiedoso é o ápice, pois como o Reinado é de Deus, o caráter de Seu reinar é o parâmetro a respeito de todas essas questões.

Nas parábolas de Jesus, frequentemente ele ilustra a relação dos reis com seus servos, e costuma apresentar choques dos princípios do Reinado de Deus com os reinos dos homens, fazendo analogia entre Deus e o rei, nos contos. Podemos ver isso na parábola dos “Trabalhadores na Vinha – Mt.20:1-16”; “O Retorno do Rei – Lc.19:11-27”. Em “a Parábola do Servo Impiedoso”, um servo contraiu uma dívida astrondosa, impagável. O número individual para o qual o Koiné – o dialeto grego de uso mais comum – possuía um um termo maior, era dez mil. Jesus assim usa o número para se referir a uma mensuração ao limite. Craig S. Keener, um dos maiores estudiosos acadêmicos do Novo Testamento na atualidade, aponta que  dez mil talentos correspondia a cerca de 275 mil anos de trabalho em diárias, em média para os trabalhadores comuns. Isto representa a dívida da humanidade para com Deus. A imagem da dívida era muito forte para a população da época, vide que era corriqueiro pessoas verem suas vidas completamente comprometidas por dívidas para conseguirem cultivar ou tocar seus negócios, e era muito comum se tomar as terras ou encarcerarem os trabalhadores. A palavra dívida provocava temores intensos. Na parábola se mostra que tal dívida do servo só poderia ser lidada com a venda do próprio, e sua família. Isto é altamente sugestivo em relação à condição humana para com Deus. Nessa nossa condição, não temos como auferirmos economicamente o efeito de nossos pecados ante a condição divina de ser Quem É como É. Não tem cálculo.

Mas o rei perdoou. Se pusesse o rigor da contabilidade, não precisaria nem argüir ao servo que não haveria paciência o suficiente para que ele pudesse arcar com sua pesada dívida.

Mas, ao se deparar, por sua vez, com outro servo representando no mesmo parâmetro, cem dias de trabalho, este mediu; este usou da meticulosidade contábil. Pague. É justo, pague. Está devendo, pague. Tenho e mereço receber: pague. Não escutou o mesmo apelo que ele fizera ao rei. Pague. Tenho sua garganta em mãos: pague. Nossos pecados uns ante os outros. Nossas dívidas em comum. Talentos. Denários. Cem dias. 275 mil anos....

Não julgueis, para que não sejais julgados, porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.
Evangelho Segundo a Tradição de São Mateus 7:1-2

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