Ele antes então faz severas advertências a respeito das tentações que fazem as pessoas humildes a seu serviço caírem – Mt. 18:6-9, dizendo que é do decurso da história humana acontecê-lo, mas ao mesmo tempo enfatiza a responsabilidade pessoal e frisa de forma avassaladora o peso para os responsáveis pelas quedas. Conta sobre a ovelha pedida – Mt. 18:10-14 – falando do drama dos discípulos desviados e de como Deus não desiste deles, pelo contrário, até mesmo se angustia à busca deles. Fala sobre sua representação na Igreja quando buscam lidar com pessoas em erro dentro dela, quando o parâmetro é a compaixão, o respeito pela privacidade e dignidade da pessoa, a busca de reconciliação, até o limite da falta de escrúpulos e arrependimento de quem está errado Mt. 18:21-22, e não na disposição em perdoar. A Parábola do Servo Impiedoso é o ápice, pois como o Reinado é de Deus, o caráter de Seu reinar é o parâmetro a respeito de todas essas questões.
Nas parábolas de Jesus, frequentemente ele ilustra a relação dos reis com seus servos, e costuma apresentar choques dos princípios do Reinado de Deus com os reinos dos homens, fazendo analogia entre Deus e o rei, nos contos. Podemos ver isso na parábola dos “Trabalhadores na Vinha – Mt.20:1-16”; “O Retorno do Rei – Lc.19:11-27”. Em “a Parábola do Servo Impiedoso”, um servo contraiu uma dívida astrondosa, impagável. O número individual para o qual o Koiné – o dialeto grego de uso mais comum – possuía um um termo maior, era dez mil. Jesus assim usa o número para se referir a uma mensuração ao limite. Craig S. Keener, um dos maiores estudiosos acadêmicos do Novo Testamento na atualidade, aponta que dez mil talentos correspondia a cerca de 275 mil anos de trabalho em diárias, em média para os trabalhadores comuns. Isto representa a dívida da humanidade para com Deus. A imagem da dívida era muito forte para a população da época, vide que era corriqueiro pessoas verem suas vidas completamente comprometidas por dívidas para conseguirem cultivar ou tocar seus negócios, e era muito comum se tomar as terras ou encarcerarem os trabalhadores. A palavra dívida provocava temores intensos. Na parábola se mostra que tal dívida do servo só poderia ser lidada com a venda do próprio, e sua família. Isto é altamente sugestivo em relação à condição humana para com Deus. Nessa nossa condição, não temos como auferirmos economicamente o efeito de nossos pecados ante a condição divina de ser Quem É como É. Não tem cálculo.
Mas o rei perdoou. Se pusesse o rigor da contabilidade, não precisaria nem argüir ao servo que não haveria paciência o suficiente para que ele pudesse arcar com sua pesada dívida.
Mas, ao se deparar, por sua vez, com outro servo representando no mesmo parâmetro, cem dias de trabalho, este mediu; este usou da meticulosidade contábil. Pague. É justo, pague. Está devendo, pague. Tenho e mereço receber: pague. Não escutou o mesmo apelo que ele fizera ao rei. Pague. Tenho sua garganta em mãos: pague. Nossos pecados uns ante os outros. Nossas dívidas em comum. Talentos. Denários. Cem dias. 275 mil anos....
Não julgueis, para que não sejais julgados, porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.Evangelho Segundo a Tradição de São Mateus 7:1-2
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