21 de fevereiro de 2011

Fé: iluminação para os momentos de pura sombra

Romanos 8:15 –
Com efeito, não recebestes um espírito de escravos, para recair no temor, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, pelo qual clamamos Abba! Pai!

Marcos 14.36:
E dizia: ‘Abba! Tudo é possível para ti: afasta de mim este cálice; porém, não o que eu quero, mas o que tu queres’.

Neste grito dilacerante, neste momento de tormenta e pavor, Jesus não se achega a Deus com amargura, antes relança um grito que ecoará e será um marco na devoção da igreja cristã nascente, como se atesta na passagem de Romanos e em Gálatas 4.6 ("E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: 'Aba, Pai'").

O cálice evocava a imagem do julgamento de Deus, representado como Rei. Em Marcos 10.39 Jesus aplica-o para tratar do martírio cristão. Ele sabe então ali que o aguarda o martírio, e mais do que somente a crucificação, mas o recair do julgamento pelos pecados da humanidade. Ele expõe o sincero desejo do coração para não passar por isso; porém, sua disposição de espírito é a de cumprir o que sabe ser o querer de Deus.

Na passagem citada em Romanos, o sentido de urgência na expressão de Paulo no emprego da palavra "clamar" bem se adéqua à descrição de Jesus no jardim como estando "angustiado" e "agitado".

Advém como ápice para a linha da argumentação que faz com a igreja de Roma. Ele joga neste trecho com a idéia da libertação de Israel no Êxodo e as constantes recaídas destes devido à inconstância para com Deus. Destaca que é a ação de Deus a partir da Sua boa-vontade em redimir um povo para se relacionar especialmente com ele é que desencadeou seu ato de libertação da escravidão, sempre algo para adiante, não um retrocesso:

Êxodo 13.21: Tu, com a tua beneficência, guiaste a este povo, que salvaste; com a tua força o levaste à habitação da tua santidade.
Êxodo 15.13: Tu, com a tua beneficência, guiaste a este povo, que salvaste; com a tua força o levaste à habitação da tua santidade.
Reinvocado em Neemias 9.12: E guiaste-os de dia por uma coluna de nuvem, e de noite por uma coluna de fogo, para lhes iluminar o caminho por onde haviam de ir.
Salmo 78.14: De dia os guiou por uma nuvem, e toda a noite por uma luz de fogo.

A força da imagem da “luz” de Deus guiando adiante sem dúvida brilhara na retórica de Paulo na contraposição a “recair no temor”.

Também aí Paulo, como pensador brilhante, combina com temas da cultura romana, em que quando ocorria uma adoção legal, o filho adotivo passava a ser considerado herdeiro, e todas as pendências antigas com o novo pai eram canceladas.

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