11 de julho de 2012

Nem alforje, nem dinheiro ao cinto

E ele percorria os povoados circunvizinhos, ensinando. Chamou a si os Doze e começou a enviá-los dois a dois. E deu-lhes autoridade sobre os espíritos impuros. Recomendou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado apenas; nem pão, nem alforje, nem dinheiro ao cinto. Mas que andassem calçados com sandálias e não levassem duas túnicas. E dizia-lhes: “Onde quer que entreis numa casa, nela permanecei até vos retirardes do lugar. E se algum lugar não vos receber nem vos quiser ouvir ao partirdes de lá, sacudi o pó de debaixo dos vossos pés em testemunho contra eles”. Partindo, eles pregavam que todos se arrependessem. E expulsavam muitos demônios, e curavam muitos enfermos, ungindo-os com óleo.


Diferente de muitos líderes carismáticos e formadores de grupos religiosos, Jesus não parecia ter um ministério marcado por um apelo a se apartar da sociedade e da vida do povo; parecia se envolver e adentrar nas comunidades e relacionar sua mensagem com a vida delas.

O cenário retratado pelo evangelista Marcos acentua isto bastante. Ele situa essa passagem logo após narrar a rejeição do Mestre em sua região. Ainda assim, não sucumbe à tendência de dar, a partir disso, um direcionamento à sua proclamação para um sentido de apartamento do mundo social dos aldeões... antes ele permanece percorrendo e ministrando nos povoados, e a atribuição aos seus discípulos para fazer o mesmo, no mesmo caráter.

Os Doze. Jesus não selecionou doze discípulos priores à toa; sem dúvida passava o entendimento de remontar ao povo de Israel unido; ao Israel idealizado; remetiam às doze tribos das origens do povo de seu Deus. Mas a ênfase de Jesus não seria a nostalgia do passado; mas à perspectiva do futuro, à restauração do povo, restauração com a terra, restauração consigo mesmos, restauração com Deus.

E muito importante quando Marcos coloca que a estes Doze ele lhes outorgou poder. A questão passa a ser como ele lhes incumbira de exercer este poder...

Primeiramente, são chamados a associarem sua missão com a vida as comunidades, e não se apartarem num tipo de “esnobismo espiritual” delas. Também, são chamados a se despojarem e dependerem totalmente de Deus.

Não tinham reservas de sustento: não levavam suprimentos, não podiam usa a comum túnica sobre-capa, a qual era cusual como cobertor, colcha de cama, na falta de pousada para a noite. Apenas uma túnca. Tinham que contar que Deus iria providenciar. Não poderiam mendigar, não usando as bolsas que os mendigos usavam. Aceitar o pouso que lhes oferecessem, a comida que lhes dessem, sem ter a opção de migrarem para as casas mais confortáveis nos povoados caso lhes oferecessem no decorrer da estadia. E em caso de rejeição, deixarem a causa por conta de Deus, para ele acertar as contas com as pessoas, não levando consigo a mágoa e rancor...sacudir a poeira e deixar as pessoas com suas responsabilidades.

Marcos, diferente de Mateus 10.9, diz que os discípulos poderiam usar um bordão. Talvez porque a combinação deste com as sandálias remetesse à imagem do êxodo do Egito – Ex. 12.11 – ou porque Mateus os quis diferenciar de outros grupos de pregadores itinerantes.

Marcos chama a nossa atenção para a associação entre a mensagem de arrependimento com a expulsão dos demônios e cura. É como se quisesse mostrar que para o caráter da missão de Jesus, estavam mesmo interligados. O arrependimento, a restauração, a derrota do mal e o sanar. Realmente, causamos muitos males a nós mesmos, de cunho psicológico e físico, com nossas culpas que carregamos; também com as ações más, que reverte-se em nós, ou que deformam nossa imagem e semelhança de Deus. Quebramos nossas resistências e tendemos a entrar numa espiral viciosa de degradação interior ou exterior, que não se retrai; apenas pode ser quebrada; este é o papel da confissão e do arrependimento.

Marcos continua nos conduzindo a esta apresentação do comissionamento de Cristo. Nos transporta a seguir para um cenário contrastante, com o fausto e perversão da corte herodiana, e dela para a morte de João Batista, como que indicar realmente que este discipulado tem um preço, e que não é algo, digamos, “romântico”, mas um embate mortífero com as forças contrárias...

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