9 de outubro de 2010

Transpondo o ministério de Jesus para o contexto atual

Recomendo o livro “Arqueologia, História e Sociedade na Galiléia: o contexto social de Jesus e dos Rabbis”. É uma excelente ferramenta para se entender a atmosfera da época, a configuração das relações sociais, as cargas conotativas que determinados termos e ações podiam carregar, cargas simbólicas, reflexos de eventos históricos na mentalidade do povo, o modo de vida, estrutura econômica, condições sociais, base material da cultura, geopolítica, etc. E isso é muito importante para quem quer transpor os cenários e seu impacto para o mundo contemporâneo, e podermos fazer um exame se a pregação e práxis tem refletido de acordo o ministério de Jesus e os primeiros cristãos, ou se estamos domesticando e criando nosso próprio cristianismo e mesmo nosso próprio “Jesus” de forma conveniente ao status quo.

O autor, Richard Horsley, apresenta um resumo ilustrativo da figura do ministério de Jesus entre as pessoas e estruturas de seu contexto, e o impacto de sua mensagem, a partir de uma aproximação histórica. Deixo um trecho que serve como ótima apresentação do que se emana, extraído de um outro livro dele, “Jesus e o Império: o reino de Deus e a nova desordem mundial”:

Recorrendo a esses valores e princípios tradicionais de relações político-econômicas justas e cooperativas, e adaptando-as, Jesus convocou as pessoas a assumirem o controle de suas vidas numa revolução social [ nota: revolução política é necessariamente tomada de poder através de um assalto; revolução social é transformação da ordem social advinda principalmente de transformação das relações sociais e econômicas]. Como Deus agia em nome delas, julgando e libertando, elas mesmas podiam agora agir para detectar comportamentos divisivos e para ® estabelecer a cooperação. Em vez de se culparem umas as outras pela pobreza que afligia a todos, elas podiam prestar socorro umas às outras, numa restauração de assistência mútua. Em vez de suspeição e rancor, podiam reacender um espírito de solidariedade. Longe de imitar as práticas exploradoras dos ricos, tirando vantagem da pobreza e desespero de outros para defraudar seus vizinhos, elas deviam renovar o compromisso com os princípios de justiça da aliança na esperança de que a ação restauradora de Deus era iminente. Em vez de imitar os padrões imperiais pelos quais os “grandes” exerciam o poder sobre outros,os que se dispunham a liderar deviam tornar-se servos dos outros.

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